quinta-feira, 5 de junho de 2008

Vambora

Aos meus amigos A. Machado, L.D. Ungarelli e W. Hungria ( entre poucos e fiéis outros...)






Vou me embora pra Pasárgada
Bandeira mostou o caminho
e o Quintana me falou
que posso ser passarinho.
Arrumar minha boroca
e botar o pé na estrada
pitu, tabaco e paçoca
não preciso de mais nada.
Às vezes tão quixotesco
às vezes tão delirante
de traço tão pitoresco
e almejando ser Cervantes.
Se não der, vou pra Atenas
aqui eu não fico mais
vou fugir da minha pena
gritei : Solte Barrabás !!!
Vou me embora pra Pasárgada
quem quiser, venha comigo
lá conheço a dona Juana
que me prometeu abrigo.
Vou tomar minhas branquinhas
com farofa de torresmo
cá tenho de andar na linha
lá eu posso ser eu mesmo.
Vou me embora, vou me embora
aqui eu não fico mais
levarei a doce aurora
pras noites de alguns ais.
Vou me embora, e já me arranco
levarei Drummond comigo
coitado, tão esquecido
sentado naquele banco.
Creio já chegada a hora
de buscar o meu quinhão
já está ficando tarde
me diz o meu coração.
E Drummond me diz surrindo:
E a minha Itabira !?
Se eu não levá-la comigo
minh"alma queda no limbo.
Eu direi: calma colega
Seu Manuel já está lá
só levou um burro brabo
e agora nem quer voltar...

Vou me embora, companheiros
a todos, o meu abraço
me sentindo o derradeiro
mas quero sair do laço...
(...)


Oz
( Um dia de chuva em Setembro. 2008 )

À toa

Estou aqui
sem mas nem menos
a fim de delirar.
Estou assim
à toa
então entôo
uma lôa
a quem tentar indicar-me o caminho
Estou assim
sem crases ou porquês
sem crises
sem perguntar cadê
sem ninho.

Irrefletido, fácil
à-toa
envolto em hífens
e outros quiproquós...

Eu estou só
mas eu sou passarinho...

Ozênio Dias

entardecer

O tempo que passou é o que me resta
a medida inexata dos meus passos
o vôo, a liberdade em estilhaços
fio de luz se esvaindo pelas frestas.

Como disse certa vez aquele moço
tempo assim como a face dos meus filhos
na memória que viaja sobre trilhos
restam o salto, o silêncio, a rã e o poço.

Quase defronte a deus e estou cego
e nego, e acredito, e estou sozinho.
Escuridão é o mar no qual navego.

Gritar já não posso. Emudecido.
O medo a tolher os meus caminhos.
O vulto no espelho está vencido.

Ozênio Dias