domingo, 6 de abril de 2008

De redenção e espera

Um ancião vagueia na orla do bosque. Ao crepúsculo retorna à cabana em passos vacilantes. Teus olhos, mortiços. Tua longa barba embranquecida oscila suavemente sob a leve brisa da noite incipiente.
Na cabana, fracamente iluminada por um candieiro de cobre pendente do teto, uma mulher cose uma mortalha purpúrea enquanto entoa uma antiga e obscura canção.
O primogênito desapareceu no último outono e, de quando em quando, surgem rumores (...), um cavaleiro que surge do leste envolto num manto negro, que fala um dialeto desconhecido e habitaria uma das ilhas do pacífico sul.
Defronte à taberna, do outro lado do lago lodoso,um jovem cambaleia; nas suas mãos uma tocha cuja chama o vento apagou.
Oh,estirpe amaldiçoada.
Nos fundos da cabana, na penumbra, uma jovem de longos cabelos e olhos negros e profundos, vestida numa leve túnica arqueja suavemente e suas frágeis mãos parecem querer arrancar daquele tenro corpo uma chama invisível.
À distância, o débil choro de um recém-nascido.


Ozênio Dias

06.04.08

2 comentários:

Alan Oliveira Machado disse...

Quem seria esse velho escorraçado nas sombras, corroído pelas intempéries e pelo ácido que salta da alma e da língua humana? Seria Thoreau em busca da medúla da vida?
alan

alhures disse...

quem, mio velho!!!